Estudantes constroem a primeira casa fabricada digitalmente no Brasil.
Na última reportagem da série “Imóveis, Reflexos da Crise” veja projetos como o de uma casa montada com base em um projeto totalmente digital.
Pressionadas pela recessão, as empresas do setor imobiliário foram obrigadas a inovar e buscar tecnologias avançadas para resistir e sobreviver. Confira na última reportagem da série “Imóveis, Reflexos da Crise”, com Christiane Pelajo.
Rio de Janeiro, lugar ideal para quem quer tocar uma obra? Estudantes da UFRJ aproveitaram uma folga das aulas para construir a primeira casa fabricada digitalmente no Brasil. “Fabricada digitalmente” quer dizer que ela está sendo construída com mais de 800 peças recortadas em uma máquina a partir dos desenhos feitos pela Clarice.
“A pessoa pode fazer isso em qualquer lugar. Na laje de uma favela, no terraço de um edifício que não é utilizado. Então é essa a ideia do projeto: popularizar uma tecnologia que está sendo introduzida no Brasil”, explica a arquiteta Clarice Rohde.
Essa tecnologia a Clarice descobriu em um site de onde ela tirou o projeto de graça. A proposta aqui é ajudar qualquer pessoa a baixar na internet a planta de uma casa e montar sem mão de obra especializada.
Os amigos já resolvem. O site é de uma organização britânica e um representante de lá veio conferir o projeto brasileiro.
“Fiquei bem surpreso porque a casa é enorme. Já tem vários modelos dos ‘wikihouses’ espalhados pelo mundo e acho que esse é o maior que existe”, diz Jimmy Greer, representante do Wikihouse no Brasil.
O desafio exigiu apenas cinco dias e noites de trabalho. É difícil de acreditar, mas a construção da casa deveria ter durado apenas três dias. Será que esse é o futuro?
“Tudo indica que estamos caminhando para essa direção, o último setor a entrar na questão do digital é a construção. Automobilístico, Aeronáutica, indústria de objetos, moveis, já está há um tempo nisso. Agora é a vez da construção civil”, afirma Affonso Orciuoli, professor de informática aplicada à arquitetura.
“Se você não pensava em trazer produtos novos, novas soluções de qualidade, de economia, de eficiência, hoje você está pensando porque é muito importante para o comprador”, aponta Celso Amaral, diretor da consultoria GeoImovel.
Eficiência é urgente para o mercado imobiliário. Em apenas cinco anos o número de empresas de construção civil dobrou no Brasil, mas foi um estirão sem planejamento. 40% das companhias nem medem a própria produtividade.
Em Porto Alegre, o modelo de construção nem tijolo tem. A obra sobe com fôrmas que são preenchidas com concreto para erguer as paredes.
“A gente acaba eliminando a etapa do pedreiro, que vai assentar a alvenaria, então a gente já não tem o bloco, já não tem a argamassa, já não tem o reboco, a gente acaba fazendo todos esses tipos de materiais, substituindo por um único material, o concreto. O concreto que faz esse sistema funcionar”, explica Leandro Muniz, engenheiro da obra.
Casa construída assim exige investimento nas fôrmas e também no treinamento dos trabalhadores, mas compensa se o volume for grande. “Você acaba tendo uma economia de 25% a 30% no seu custo final da obra”, diz o engenheiro. Essa economia vai ser fundamental nos próximos meses, que vão continuar difíceis.
Para concretizar os nossos maiores sonhos a gente sempre precisa de um imóvel. Dos planos de alguém nasce uma empresa que enche um prédio. Logo aparece um restaurante ali por perto, e outra pessoa pensa em abrir, talvez, um salão de beleza. Em pouco tempo o bairro cresce, com várias pessoas querendo morar ali. Se muitos imóveis estão ocupados porque tem bastante gente apostando que o futuro vai ser bom. Mas a crise derrubou muitas dessas apostas.
Na série, vimos isso e encontramos casas, lojas e empresas fechadas em várias regiões do Brasil e as previsões do mercado indicam que isso só deve começar a mudar em 2017.
“2016 será um ano perdido. Infelizmente será um ano perdido. Os incorporadores não vislumbram grandes esperanças para o próximo ano porque as condições macroeconômicas não se alteraram”, prevê Celso Amaral, diretor da consultoria GeoImovel.
“A economia brasileira perdeu completamente o rumo e nós estamos vendo agora o efeito no tempo de todos os equívocos cometidos a partir de então. Vai demorar algum tempo para corrigir, mas o Brasil certamente vai sobreviver, vai ultrapassar essa crise. A vantagem de ter uma certa idade, como é o meu caso, é que eu já vi coisa pior e eu sei que o Brasil consegue superar isso. O Brasil é maior que a crise”, aponta o economista Eduardo Gianetti.
Enquanto a recuperação não vem, o mercado concentra os esforços em pólos que ainda atraem investimentos como o Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
“Hoje ninguém quer morar no Porto. O problema de mobilidade urbana é muito grande naquela região. Eu acho que, com todas essas obras de infraestrutura que estão sendo feitas, vão melhorar muito aquela região”, diz João Paulo Rio Tinto de Matos, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário.
Prédios de escritórios, prédios residenciais, o Museu do Amanhã, um novo bairro está sendo construído.
“Hoje vivem aproximadamente 30 mil pessoas nessa região, e a projeção é que em um período aí de 10 a 15 anos nos tenhamos outras 70 mil pessoas morando aqui na região, em uma população residente de cerca de 100 mil habitantes”, afirma Alberto Gomes Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro.
Essa é mais uma promessa de progresso como foi vista nas reportagens da série. Será que agora vai?