2 – Ressaca do Mercado

Venda imobiliárias de R$ 3 bi foram canceladas no 1º semestre de 2015

Na segunda reportagem da série entenda o impacto da crise do mercado imobiliário na vida dos brasileiros.

Um mercado que ainda há pouco tempo viveu um momento de euforia agora entrou em depressão. No Brasil inteiro casas, apartamentos e lojas estão vazios, encalhados. Na segunda reportagem da série “Imóveis, Reflexos da Crise” veja como o mercado imobiliário entrou nesse buraco e o que ele representa para o país.

Foi uma festa boa. Nos últimos anos tanta gente comprou casa no Brasil que o mercado imobiliário viveu anos de glória, explodiu. Mas isso até 2015 porque agora a festa azedou.

Milhares de brasileiros estão rompendo o contrato com as construtoras. É o chamado “distrato”. Vendas de R$ 3 bilhões foram canceladas no primeiro semestre de 2015, isso só juntando as contas de sete companhias do setor.

Já tem empresa que, de cada três casas que vende, recebe uma de volta. “Na realidade, é um acerto de contas com o passado: 2009 a 2011 e 2012, onde houve uma irracionalidade no mercado imobiliário. As pessoas compravam sem fazer muitas contas, as empresas também flexibilizavam muito o crédito e muita gente apostando na valorização de imóvel”, aponta Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa.

Christiane Pelajo acompanhou essa fase, quando fez a série “Em Obras” (veja as reportagens aqui) sobre o mercado para o Jornal da Globo, em 2011.

Naquela época o brasileiro se acostumou a ver a cena, ouvir esse barulho. Perto de casa, perto do trabalho e muitas cidades viraram verdadeiros canteiros de obra.
Quatro anos depois a situação é bem diferente. Tem muito menos obra porque tem muito menos gente podendo comprar. As famílias brasileiras já estão gastando quase metade da renda para pagar dívida e o que sobra vai para o básico porque a inflação disparou e os juros também.

Foi exatamente por causa dos juros que a Taísa e o Maurício ainda não conseguiram realizar o sonho da casa própria. O casal chegou a comprar um apartamento na planta há três anos. Eles se casaram, a Thaisa ficou grávida, a obra atrasou e os juros passaram de 7,25% ao ano para 14,25%.
E a vida a dois começou a três, porque eles se instalaram na casa da mãe da Thaisa. Eles iam morar em um apartamento de 66 metros quadrados, e agora estão tendo que se espremer em um quarto que deve ter aproximadamente 12 metros quadrados.
Eles tiveram que se virar para caber roupa dela, do Maurício no quarto que ela dormia sozinha quando era solteira. “É, a gente teve que comprar mais um armarinho para colocar as roupas dele, senão não iria caber no meu armário e fica bem apertadinho, mas está tudo bem”, diz ela.
Distratos como o da Thaisa não são só culpa da economia, não. “A culpa foi compartilhada, não tenha dúvida nenhuma que as empresas não

“A culpa foi compartilhada, não tenha dúvida nenhuma que as empresas não estudaram adequadamente os produtos. A gente não pode generalizar, mas muitas delas não foram prudentes. Lançaram produtos em grande quantidade, esperando que a demanda fosse sempre crescente e isso não ocorreu”, diz Celso Amaral, diretor da consultoria GeoImovel.

Em 2011, no auge do boom, as construtoras lançaram quase três vezes mais imóveis em todo o país do que agora.

“Se tinham dois, três empreendimentos concorrendo na mesma região, lançava-se um quarto, um quinto e vendia-se. Hoje não, hoje a gente analisa muito a concorrência, a demanda da região, e é esse tipo de cautela que nós estamos tendo”, explica Milton Bigucci, diretor da MBigucci.

Mesmo com essa cautela ainda tem mais imóvel encalhado no mercado do que vendido. E, para liquidar esse estoque, as empresas passaram a oferecer de tudo. Imóvel personalizado, ajuda para quem perdeu emprego e o principal: os descontos.
Estamos na temporada de feirões. E os descontos estão fazendo a diferença. Os preços dos imóveis no Brasil, que estavam nas alturas, desaceleraram nos últimos anos. Em 2015 ficaram abaixo da inflação e estão realmente mais baratos.
Muita gente esperou por essa queda e achou que seria o momento ideal para fazer a casa própria caber no bolso. O problema é que a piora da economia brasileira, a mesma que derrubou o preço dos imóveis, deve fazer um milhão de brasileiros perder o emprego em 2015 e, para esses, a casa dos sonhos vai acabar escapulindo.

Edição do dia 21/12/2015

22/12/2015 01h40 – Atualizado em 22/12/2015 02h45