No dia 1° de maio, a cidade de São Paulo acordou atônita com a notícia do incêndio e posterior desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paiçandu, no centro da capital.
O diretor da Amaral d’Avila Engenharia de Avaliações, Celso Amaral, falou sobre os perigos de se permitir a ocupação em prédios sem a mínima segurança, levando ao que ele chama de “tragédia anunciada”.
Celso pontua alguns dos principais fatores de riscos existentes em prédios ocupados, como a parte elétrica completamente improvisada. Recentes notícias apontam um curto circuito no 5° andar do prédio como o causador do incêndio.
Além disso, existem outros riscos simultâneos presentes nesse tipo de situação: lixo acumulado (muitas vezes altamente inflamáveis e/ou que preenchem as caixas dos antigos elevadores e nos corredores), inúmeras divisórias em madeira, ou papelão, dezenas de botijões de gás em ambiente fechado, e ausência de equipamentos de segurança, como mangueiras de incêndio, corredores obstruídos e portas fechadas, etc.
Agravantes para a queda
Nesse caso em específico, temos um agravante: como vocês podem ver na foto a seguir, pertencente ao banco de dados da Amaral d’Avila, o edifício em questão representava, na ocasião de sua construção (anos 60) extremo arrojo técnico e arquitetônico, projetado pelo Arquiteto Roger Zmekhol, que o concebeu inspirado na arquitetura de edifícios norte-americanos.
Vanguardista e audacioso, o projeto do edifício previa, já naquela época, ar condicionado totalmente embutido e centralizado, cujo sistema primário seria insuflado pelos rodapés dos pilares e o secundário, pelas colunas e lambris de alumínio de cada andar.
O edifício era equipado com sistema de água filtrada e gelada, heliporto e restaurante para 600 refeições por hora, contava com 22 pavimentos e cerca de 12.000m2 de área construída. Foi tombado no ano de 1992 (Conpresp).
Sua estrutura foi concebida em aço, as fachadas em perfis de alumínio, com vidros tipo “ray-ban” belga (popularmente chamada de “courtain wall”, ou “pele de vidro”), mármores importados, sendo o primeiro edifício no Brasil a possuir ar condicionado central.
Ocorre que a estrutura metálica requer maiores cuidados na manutenção e proteções contra incêndios, pois em caso de incêndio, poderá ser desestabilizada com o calor, podendo vir colapsar, e foi o que ocorreu.
Um dos poucos pilares centrais da região da caixa de escada e bateria de elevadores deformou com o calor e a estrutura metálica, por ser esbelta, e deformável, não conseguiu redistribuir os esforços adicionais e colapsou!
O que fazer para prevenir
Sabemos que as ocupações se constituem em problemas de solução complexa, são questões complexas que envolvem muitos fatores presentes na nossa sociedade. Porém, não só a falta de fiscalização, como também a falta de vontade e até mesmo inoperância do poder público em resolvê-las (nas três esferas de poder), permitindo que esse tipo de tragédia continue a acontecer.
Neste caso, o imóvel pertencia à União que estava fazendo, há anos, gestões para o imóvel ser municipalizado, e o caso estava judicializado há um bom tempo, ou seja, a Prefeitura não podia “remover” as pessoas da edificação, mas estava tentando um acordo com os representantes dos ocupantes, enquanto isto todos corriam inúmeros riscos.
Infelizmente, a visão enviesada de muitos prefeitos, políticos, de alguns membros do ministério público, até mesmo do judiciário, e de aproveitadores que se dizem legítimos representantes e líderes dos movimentos sociais, contribuíram decisivamente para o sinistro.
O risco que está pelo Brasil
Para Celso, o problema não fica apenas em São Paulo. “No Brasil inteiro, de norte a sul, vemos esse tipo de coisa acontecer. E só não vemos mais sinistros, devido a atuação de “alguma força divina”.
Ele diz que uma forma de melhorar a situação poderia ser a b e a imediata remoção dos ocupantes das áreas críticas, mas que ainda estamos muito longe de ver isso acontecer.
A realização de inspeções prediais, ou de vistoria técnicas nas dezenas edificações invadidas, neste momento, é mais uma perda de tempo, pois no entender de Celso Amaral elas devem ser simplesmente evacuadas, os problemas observados no Wilson Paes de Almeida, se repetem, com maior ou menor intensidade, trazendo riscos aos ocupantes e à edificação.
O problema social é grave e persistente, no entanto, acabou por se tornar um negócio imoral, discutível inclusive, na esfera criminal, por parte de muitos exploradores da desgraça alheia, como observamos recentemente neste caso.
Depois dos desastres, que pelos menos surjam soluções definitivas e responsáveis!