No dia 04 de dezembro, escutei um repórter da Rádio Jovem Pan discorrendo sobre o viaduto recentemente colapsado em São Paulo, que fez uma afirmação muito curiosa:
“Que o viaduto, por ser muito antigo, não suportou o tráfego atual, que é muito mais intenso do que aquele observado 40 anos passados”.
Ora, a informação para um leigo até pode ser consistente, mas para um técnico, soa como uma imensa bobagem! O peso próprio do viaduto é imenso se comparado ao tráfego que é suportado por ele! Por outro lado, a carga de projeto (definido de “trem tipo” pela NBR da época) é muito maior do que a observada em um congestionamento, ou no uso diário, portanto, o que menos contribuiu para o colapso não foi a carga variável.
Obras públicas no Brasil
A realidade é que as obras públicas no Brasil são idealizadas para não durarem, pois as manutenções preditivas e preventivas não são planejadas. Somente a corretiva é executada, quando já há riscos de toda a natureza, ou quando o sinistro ocorre.
Há procedimentos padronizados e normatizados para as vistorias de obras de arte, no entanto, é fato que o poder público não dá a mínima para conservação de seu patrimônio e só dá as caras quando algo gravíssimo ocorre, ou quando instado pelo Ministério Público.
O caso do incêndio ocorrido recentemente no Museu Nacional do Rio de Janeiro é um caso clássico de total ausência de obras de manutenção, mesmo aquelas imprescindíveis para a segurança. Depois do incêndio, a verba apareceu, e há imensa vontade de reconstruir as “cinzas que sobraram”!
Entendemos também que os Arquitetos e Engenheiros, em alguns casos, podem contribuir para a evolução de algumas patologias, pois por omissão ou desconhecimento técnico, deixam de efetuar as vistorias técnicas necessárias para identificação do problema.
Além do exposto, inúmeras obras públicas são executadas não atendendo as melhores práticas, e muitos projetos são falhos na execução e na fiscalização. Um exemplo de tal fato é a pavimentação de ruas, avenidas e até rodovias, nas quais observamos inúmeros problemas nos projetos e execução, que contribuem para inúmeros acidentes, prejuízos de toda natureza e na execução de eternas obras de recuperação e manutenção, que são igualmente mal idealizadas e executadas.
Recentemente, a Amaral d´Avila Engenharia de Avaliações visitou uma Prefeitura localizada no Litoral Norte do Estado de São Paulo, e verificou que um pavimento rígido executado há pouquíssimo tempo já apresentava deformações indesejáveis, além de outras patologias, sendo inadmissível admitir tais fatos em uma obra tão recente.
No caso do viaduto em São Paulo, a ineficiente manutenção ao longo de dezenas de anos foi a causa raiz do problema, ou seja, a ausência do crivo dos técnicos e especialistas não permitiu detectar patologias, e na tomada das medidas corretivas minimamente necessárias, no caso do pavimento citado, observamos um projeto deficiente do pavimento, cujo baixo desempenho não pode ser imputado às chuvas, e ao tão falado clima!
Afinal, em outros países não observamos nevascas, furacões e demais manifestações da natureza? E os pavimentos estão lá, firmes!! Estivemos na região de Miami três meses após o furacão Katrina e observamos, (em que pesem as inundações) que os danos nas pavimentações foram mínimos.
Somente quando os gestores públicos forem todos responsabilizados na pessoa física é que talvez se lembrem de gastar melhor os recursos públicos! O problema do Brasil nunca foi a falta de recursos públicos, mas a má aplicação, o desvio de finalidade, o compadrio, a corrupção, aliadas a imensa irresponsabilidade e falta de vergonha na cara são igualmente prejudiciais à durabilidade das obras de infraestrutura deste País.
Celso Amaral